O Nerd Metaleiro desta semana está diferente. Ao invés de apresentar o background de bandas conhecidas de metal, irei apresentar um breve resumo da história da banda da semana, e depois farei uma análise de seus álbuns, expondo um pouco mais da temática dessas bandas. Os comentários de vocês sobre esse novo formato será muito importante.
A banda dessa semana é uma banda norueguesa de black metal com uma sonoridade moderna, reverenciando os nomes da cena norueguesa do início da década de 90, mas sem se prender a eles. Sua atmosfera épica e suas letras sobre grandes batalhas medievais e dragões são ótimos motivos para vocês a conhecerem: Keep Of Kalessin.
O Keep Of Kalessin conquistou uma posição de respeito na competitiva cena black metal norueguesa após o EP Reclaim (2003), contando com nomes de peso da música extrema. Fundado em 1993, sua primeira formação lançou dois álbuns de estúdio seguindo a linha do black metal tradicional e se desintegrou em 2000, motivada por disputas pessoais. A participação do fundador do fundador da banda, Obsidian C., como guitarrista numa das principais bandas da cena norueguesa, o Satyricon, possibilitou a retomada das atividades do Keep Of Kalessin com o apoio de dois grandes nomes: o baterista Frost (Satyricon) e o vocalista Atilla (Mayhem). |
Essa união durou pouco, mas as bases para o ressurgimento do Keep Of Kalessin já estavam lançadas. Obsidian C. recrutou os músicos Vyl (bateria), Thebon (vocais) e Wizziac (baixo) e desde então vem lançado uma série de álbuns bem-sucedidos, que transitam entre a aspereza herdada dos pioneiros Immortal e Emperor, e a melodia e diversidade das bandas que vêm tomando um direcionamento mais moderno dentro do estilo. A competência com que amarram todos essas influências, e a atmosfera épica e moderna com que as apresentam, torna o Keep Of Kalessin uma banda que rivaliza com aquelas já estabelecidas no estilo.
(2006) ARMADA
Após uma rápida introdução, os primeiros riffs e a bateria insana de ‘Crown Of Kings’ impõem o clima épico e o andamento veloz que permeia todo o álbum, sem perder o fôlego em nenhum momento. A batedeira continua em ‘The Black Uncharted’, coroada pelos vocais ásperos e guturais de Thebon. As passagens acústicas nesta música, e um solo bastante melódico, no entanto, mostram ao ouvinte que este álbum não se limita ao tradicional black metal tão cultuado pelos metallers mais fundamentalistas. |
“Many are we, who gather at the sound of war”
‘Many We Are’ explora novamente as batalhas fantásticas, e expõe toda a versatilidade do vocalista, que vai do gutural mais profundo a linhas mais gritadas. ‘Into The Fire’ mostra a crueldade e velocidade mais próximas das raízes do black metal. A instrumental ‘Deluge’ precede as duas últimas faixas do disco: a épica e empolgante ‘The Wealth Of Darkness’ e a faixa-título ‘Armada'.
Armada dá vazão a todo o potencial que Obsidian C. já vinha demonstrando, mas ainda não havia expressado, e consolida a posição da banda na cena. O conteúdo lírico do álbum, combinado à atmosfera criada pela música, coloca o ouvinte em meio a uma sangrenta batalha fantástica, sob o aço das espadas e a frieza das garras de dragões. Castelos destruídos, grandes bestas malignas e a marcha de um grande exército em busca da reconquista de um império são os temas deste álbum. Musicalmente, Armada não se encaixa precisamente em nenhum dos rótulos definidos da música extrema: incorporando elementos melódicos e riffs do thrash, sua sonoridade não chega a desagradar os que preferem a sonoridade mais crua da cena norueguesa, e mostra como o black metal moderno deve ser feito, sem se prender às correntes do passado.
“Claim your throne, reclaim your kingdom. (…) Crowned king of the dead”
(2008) KOLOSSUS
A instrumental ‘Origin’ precede ‘A New Empire’s Birth’, uma das melhores do álbum, com um refrão pegajoso e envolvente, e uma variedade de riffs criativos e interessantes que, como já é esperado dessa banda, extrapola os amplificadores e cria um cenário épico ao redor do ouvinte. A versatilidade dos noruegueses é evidenciada em músicas como ‘The Rising Sign’, que vai da batedeira pura a passagens etéreas e acústicas guiadas por teclados. |
“Of your fallen and failed creations. The end of an era, a new empire’s birth”
‘Warmonger’ e ‘Escape de Union’ também merecem destaque, além de contarem com solos matadores. ‘The Mark Of Power’ é diferente de tudo o que veio antes. Vocais limpos, bateria contida e distorção desligada na maior parte do tempo, fazem a música parecer uma soturna balada. ‘Kolossus’ é outra música bem interessante e que contem todos os elementos explorados no álbum, e ‘Ascendant’ encerra o álbum com velocidade e vigor.
“Gods hear me, hear my thunder rise. I will destroy your reign of lies”
Kolossus contou com a mesma formação do álbum anterior, e mostrou que a banda evoluiu bastante e manteve suas qualidades únicas dentro de uma cena saturada. De um modo geral, o álbum superou o anterior em termos de grandiosidade e técnica. As músicas impressionam e transmitem com sucesso o clima épico e cinematográfico a que se propõem. As letras tratam novamente de temas fantásticos, sobre uma cruzada de homens contra deuses e o estabelecimento de um império comandado por mortais. O ódio e a revolta no coração dos homens, a busca por vingança através da guerra são sentimentos expressados tanto através das letras como da música. Todas as suas qualidades somadas fazem com que Kolossus não seja nada menos do que uma obra-prima do heavy metal.
“The time has come for the one, to bear the mark of power”
(2010) REPTILIAN
Sem introduções, ‘Dracon Iconography’ inicia o álbum com riffs e vocais agressivos que beiram o thrash metal. As características da banda estão todas presentes nessa música, porém ela parece um tanto quanto sem brilho quando comparada aos outros álbuns. ‘The Awakening’ consegue trazer de volta um pouco do clima épico que faz a personalidade do Keep Of Kalessin, baseada em corais e um refrão conduzido por paradas da bateria. Uma excelente música, capaz de garantir bons momentos. |
“Risen again from aeons of sleep, the red giant breathes”
O single ‘The Dragontower’ deve ser analisado à parte aqui: a música foi inscrita pela banda para participar do festival europeu da canção. Grande parte da agressividade foi deixada de lado, em nome de um refrão assimilável e grudento e um solo bastante melódico. Está um pouco fora de lugar no álbum, com uma sonoridade que se aproxima mais do power metal, mas é de qualidade inegável. ‘Leaving the mortal flesh’ retoma a agressividade e a velocidade desmedida, e conta até com barulhos de espadas se entrechocando. A última música do álbum, ‘Reptilian Majesty’, de quase 15 minutos, retoma todos os elementos em um grande épico.
“Grant me the power of the Dragontower. Give me the might to set us free.”
Embora os elementos que levaram a banda a ocupar um posto de destaque no metal europeu estejam presentes, o álbum falha em recriar a atmosfera grandiosa esperada do Keep Of Kalessin, e algumas músicas parecem ter sido feitas apenas reaproveitando a mesma fórmula inventada nos álbuns anteriores. O tema deste álbum, como fica bem claro nos títulos das músicas, são dragões e seu poder. Algumas letras retomam temas do álbum anterior, e as grandes guerras continuam presentes aqui. Em geral, Reptilian é um álbum competente, mas que sofre com um pouco de falta de inspiração e não supera os clássicos de Armada e Kolossus.
“Hail! Dragon! Majesty! Grant us power.”
Os três álbuns apresentados aqui são ótimas peças, de uma banda que realmente consegue inovar e sobreviver dentro de uma cena tão complicada como o black metal norueguês. As viúvas da sonoridade crua dos primórdios de Immortal e Burzum podem se sentir ofendidas com essa banda, mas o tempo de queimar igrejas já foi vivido intensamente e já passou, e só uma sombra dele ainda resta, em bandas como 1339, por exemplo. A evolução deve acontecer, e o Keep Of Kalessin é um exemplo disso. Para os bangers que preferem o power metal, ou que procuram um metal extremo que se libertou das amarras do satanismo sem causa, essa banda pode surpreender.
Os temas das letras e, novamente, o clima épico, podem interessar aos nerds mais encarniçados, principalmente jogadores de D&D e similares, desde que não liguem para um gutural mais agressivo de vez em quando. Várias letras poderiam servir de inspiração para a criação de personagens e campanhas, e Armada é um álbum perfeito para ouvir no background durante uma daquelas batalhas massivas cheias de miniaturas espalhadas pela mesa. A consistência dos álbuns também pode garantir diversão para o nerd que queira ouvir o álbum com atenção às letras. Eles podem garantir uma ótima história fantástica contada ao som de guitarras velozes e “blast-beats”. Nesse caso, prefira Kolossus, destrua os deuses e suas mentiras, e vá comandar seu império.
Fonte das imagens: http://www.metal-archives.com
Porra, tirou a introdução falando sobre nerds e metal?
ResponderExcluirMas mesmo assim eu vou dizer que eu não curto metal.
Não curto muito black. Mas até que fazem um som maneiro. ^^
ResponderExcluirEu gostei do novo formato.