Anthony Gibraltar foi um personagem criado para uma campanha de Gurps Velho Oeste. A história começa em uma estação de trem do velho oeste americano e termina onde começou a campanha. É um pequeno conto trágico e cor-de-rosa. Na dúvida, leiam.
UM JOGO DE DADOS
O trem partiu da empoeirada estação com um solavanco que quase fez minha caneta soltar-se das minhas mãos. Era horrível escrever algo ali, chacoalhando naquele banco duro, mas as palavras fluíam com tanta facilidade das minhas mãos que era um desperdício abandona-las ali.
Um rapaz que havia acabado de entrar no vagão onde eu estava veio até mim, aos tropeções. Era um rapaz novo, usando um chapéu marrom muito bonito. Ele murmurou algo e sentou-se ao meu lado. Trazia uma mochila surrada, impregnada de terra, que jogou aos seus pés enquanto se ajeitava no banco.
Parei de escrever por um momento para observar o esforço do rapaz. Quando ele por fim acomodou-se tentei voltar a escrever, porém ele me interrompeu:
- Escreve poemas? - perguntou. Eu respondi que sim. - Para alguém em especial?
O nome dela saltou aos meus lábios no mesmo instante. Eu, porém, me contive, e apenas murmurei um não como resposta. Acho que o rapaz percebeu alguma coisa no meu olhar, pois nada respondeu de imediato. Depois, apenas comentou, em voz baixa, que um dia também queria ser um escritor, ou quem sabe um jornalista.
O trem tornou a solavancar, agora já com velocidade pelas planícies áridas daquela região. Uma pequena bolsinha de veludo azul saltou do bolso do meu casaco, espalhando pelo chão seu conteúdo: três dados comuns, terrivelmente encardidos.
Rapidamente, o rapaz me ajudou a recolhê-los, e os devolveu para mim com um brilho nos olhos.
- Que tal uma partida? - perguntei eu, oportuno. Ele aceitou prontamente, e me perguntou se apostaríamos alguma coisa. Eu respondi que adoraria, mas só tinha meus dados e meu baralho para apostar.
- Você tem também esta sua caneta. Vamos fazer assim: disputamos três partidas. Se você vencer, te entrego os poucos dólares que ainda tenho comigo. Se eu vencer, você escreve um poema para mim.
Olhei desconfiado para o rapaz. Adoradores de poemas eram muito incomuns por aqui. Mas era uma proposta mais do que vantajosa, e, de qualquer forma, eu jamais refutaria uma aposta.
- Você joga - eu disse, apresentando os três dados ao rapaz. Ele escolheu dois deles, e o terceiro eu devolvi para a bolsinha de veludo.
Ele sacudiu os dados entre as mãos e os jogou no espaço do banco que havia entre nós. Um doze.
- Mas que azar, rapaz. Um ponto pra mim - eu disse, e ele me respondeu com um sorriso tímido. Aqueles dois seis, lado a lado, me trouxeram as lembranças que eu mais queria esquecer naquele momento.
***
Estava escalando a parede pela hera verde, como vinha fazendo frequentemente nos últimos meses. Naquela época, não poderia nem imaginar que logo estaria sozinho, num trem, indo para alguma cidadezinha perdida no meio do nada. Não, naquela época eu estava em Nova Jérsei, e a paixão por Lílian me consumia, ao mesmo tempo em que me tornava mais forte.
Alcancei a sacada, e ela já me esperava. Beijamo-nos demoradamente, sob a luz do luar. Eu sentia que tinha achado a pessoa que me tiraria daquela vida desgraçada.
Meu pai era um grande banqueiro, comandando uma dúzia de navios que transportavam dinheiro e títulos desta terra nova até a Inglaterra. Meu irmão havia ido para lá em um destes navios, e estudava as leis na melhor universidade de nosso país de origem. Eu, porém, sempre tive o amor pelas letras e pelos sentimentos, o que meu pai não aprovava de forma alguma. Deu-me dinheiro o bastante, e me expulsou de casa quando eu tinha apenas dezessete anos. Desde então passei a viver sozinho, e ganhei algum dinheiro em apostas e jogos de azar.
Lílian mudou minha vida. A conheci num salão nobre, onde eu era convidado de seu próprio marido, o Comandante Niélson, que por sua vez eu conheci em um saloon qualquer. Lílian era a imagem nítida da perfeição. Olhos verdes que refletiam a luz das lamparinas em matizes maravilhosas, boca vermelha, e uma face tão rosada quanto as flores que nasciam no mais belo dos jardins. Neste dia conversei muito com ela, longe dos olhos do seu marido. E desde então eu me esgueirava pelos jardins do Comandante, nos dias em que ele viajava, e passava parte das noites com ela, olhando as estrelas e fazendo planos.
Destes dias de alegria, toda noite me recordo. Foram os dias mais lindos da minha vida. Mas eles foram interrompidos na trágica noite em que o Comandante Niélson voltou de uma de suas viagens e ouviu boatos, da boca de seus criados, que certo homem entrava em sua casa às noites, envolto em sombras, e nutria forte sentimento pela sua mulher. Niélson se refugiou em um saloon, e bebeu até beirar a inconsciência.
Aconteceu que, por golpe do destino, eu jogava naquele mesmo saloon, e sendo antigo conhecido do Comandante, fui convidado por ele para um pequeno jogo de dados.
- Eu aposto a minha mulher. Se você me vencer, você carrega este fardo desgraçado no meu lugar - disse-me ele, com a voz embargada - E você, o que aposta em troca disso?
- Todo o meu dinheiro... a luz dos meus olhos e a minha alegria de viver.
Ele me olhou por um momento, e no fundo dos olhos dele eu vi um brilho selvagem, uma fúria assassina. Joguei os dados na frente dele. Um cinco. Joguei mais duas vezes até conseguir outro ponto.
Ele jogou em seguida, e consegui rolar dois seis em sequência. Peguei os dados novamente, fechei os olhos, e os joguei na mesa pela última vez.
Seis e seis.
Ele me encarou, com o fogo da ira nos olhos, e bradou:
- Você é um bastardo. É melhor que amanhã de manhã seu dinheiro esteja em meus bolsos, e que você esteja bem longe dessa cidade, ou eu vou arrancar suas tripas com as minhas mãos. - O par de seis, minha ruína, me olhava divertidamente.
***
Era minha vez de jogar os dados. Rolei um quatro na primeira vez, depois um par de três e um sete. Empate.
***
No outro dia pela manhã eu estava na estação de trem. Havia deixado todo o meu dinheiro na porta da casa do Comandante, e estava deixando a cidade apenas com meu baralho, meus dados, uma caneta e alguns papéis. Não sabia para onde ir, nem tampouco tinha dinheiro para comprar uma passagem para um lugar qualquer no distante Oeste.
Havia num canto da estação um grupo de bêbados jogando dados. Eu entrei no grupo e conheci um velho careca, um pobre diabo que gritava muito. Havia acabado de perder tudo no jogo, e a única coisa que lhe restara era um bilhete de trem para uma tal cidade de Yellowstone. Jogamos, e eu o venci, terminando com um sete do velho.
Em quinze minutos embarquei no trem para esta tal cidade miserável. Não tinha nenhum dinheiro, e da minha vida carregava apenas a doce imagem de Lílian e seu lindo sorriso, manchado por lágrimas ao saber que eu partira.
***
- Última partida - disse eu ao rapaz. Ele jogou os dados novamente. Um onze - Você me venceu, rapaz. Está com sorte hoje. Acho que agora devo lhe escrever um poema.
Recolhi os dados. Saquei novamente minha caneta e me pus a escrever, terminando o poema que havia começado. Quando terminei, entreguei o papel ao rapaz. Logo em seguida o trem parou, na miserável cidadezinha onde eu desceria. Despedi-me do rapaz, e caminhava para a porta do trem quando ele gritou:
- Espere. Tome aqui estes cinco dólares, de qualquer forma. Que sirva de paga pelo seu poema. E vejo que você não tem dinheiro algum.
Hesitei por um momento. Mas acabei por pegar o dinheiro do rapaz, agradecendo-lhe a bondade, e desci para o que quer que me aguardasse com uma lágrima de saudades escorrendo dos meus olhos.
Memorável esse personagem! ^^
ResponderExcluirMuito bom mesmo...
ResponderExcluirpôooo... ñ entendi nd
ResponderExcluiracho q minha idade e meu gosto ñ se encaixa com nd disso
eu criei na minha cabecinha oca q espadas são melhores q armas
isso quando joguei mega-man e vi o zero
"acho q eu tenho q mudar isso pra; sabres de luz são melhores q qualquer arma."
Muito bom!
ResponderExcluirmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmtmtmtmtmtmtmtmttmtmt boooooooooooom *-*
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