O Nerd Metaleiro - Angra (2/2)

Qual nerd irá dizer que o heavy metal não faz parte de sua vida. Mesmo que você não seja um aficcionado, todo nerd é, inevitavelmente, um pouco headbanger. Nesta coluna irei escrever sobre algumas das principais bandas de heavy metal (ou não) do mundo, aquelas que todo nerd deveria conhecer. E não, o Hashura não curte metal...

Hoje o Nerd Metaleiro irá continuar explorando a carreira do Angra a partir da sua segunda formação. Nessa época o Angra lançou os seus melhores trabalhos, os mais rápidos, pesados e empolgantes. Também não vão faltar coisas que os nerds vão adorar: anjos caídos, demônios, cruzadas, fantasmas e uma ilha fantástica.

Em 2001, o Angra ressurgiu com uma nova formação. Pinçados de outras bandas de metal, vieram o vocalista Edu Falaschi, Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria). Completando o line-up continuaram os guitarristas fundadores da banda Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro. Os membros que deixaram a banda, Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori, fundaram o Shaman, sobre a qual o Nerd Metaleiro falará em outra oportunidade.

Ainda em 2001 foi lançado o primeiro álbum da banda com a nova formação: Rebirth.

Rebirth é um álbum conceitual, que fala sobre um mundo sendo reconstruído após ter sido destruído pelo ódio dos próprios seres humanos. As letras são também bastante pessoais e dizem muito sobre a situação pela qual a banda passava no momento. O disco começa com a instrumental 'In Excelsis', e é seguida por uma das melhores do disco, 'Nova Era', que fala sobre um novo dia, quando anjos caídos voltarão à vida. A melancólica 'Milleniun Sun' fala sobre esperança, e é seguida por mais um petardo: 'Acid Rain' fala sobre alguém que sobreviveu à oceanos contaminados, à chuva ácida e outros cataclismos, e seus coros (Miseribus, sanctus), solos velozes, riffs matadores e a performance impecável do baterista Aquiles mostram que o Angra não perdeu sua qualidade após a separação da formação original.

Depois de 'Unholy Wars' e 'Heroes of Sand', vem a faixa que dá nome ao disco. 'Rebirth' é talvez a faixa mais emocionante e poderosa do álbum. Suas letras falam sobre o reinício, sobre se reencontrar e renascer como homem após perder as esperanças. Rebirth é também a síntese do pensamento dos membros da banda após terem quase alcançado o final da sua carreira. As últimas músicas, 'Judgement Day', 'Running Alone' e 'Visions Prelude' contam o início da história sobre a qual se desenvolve o álbum. Rebirth, no geral, é um álbum pesado, recheado de solos, vocais versáteis, e preenchido por uma bateria ultra-veloz. Se não superou, certamente este disco igualou a qualidade vista em Angels Cry, e consolidou o nome do Angra no rol das principais bandas de heavy metal brasileiras.

Em 2004, com a mesma formação, o Angra lançou Temple of Shadows. Novamente um álbum conceitual, desta vez narrando a jornada de um cavaleiro convocado para a Primeira Cruzada, que começa a questionar sua fé e os ideais impostos pela Igreja. O disco possui a clássica introdução instrumental, 'Deus le Volt', e assim a jornada tem início com 'Spread Your Fire', no qual o protagonista é impelido a espalhar a verdade e a liberdade entre seus iguais, e a liderá-los com sua espada, e 'Angels and Demons', que conta como anjos e demônios se disfarçam e enganam as mentes dos mortais com suas mentiras.

Ao longo do restante do disco, a fé do protagonista continua sendo posta à prova. Ele vivencia a guerra, conhece a perda e a dor, e vê profecias sendo cumpridas. A penúltima música, 'Late Redemption', trata de seus últimos momentos na Terra, onde ele espera pela redenção de seus atos. Essa música conta com a participação de Milton Nascimento, cantando em português, e é o momento mais emocionante do disco. À parte da história, Temple of Shadows mostra o Angra em seu ápice: a interpretação de Edu Falaschi é talvez a melhor de toda sua carreira, o baterista Aquiles Prister não perdoa seus bumbos nem por um segundo, Felipe Andreoli despeja suas notas graves sem descanso, e a dupla de guitarristas está ainda mais afiada. É um disco pesado e intenso do começo ao fim.

Temple of Shadows foi muito bem recebido e rendeu uma extensa turnê, milhares de cópias vendidas e diversos prêmios. No entanto, depois de um tempo, os problemas antigos da banda, envolvendo o empresário e os músicos, voltaram a aflorar. Pirani, que detinha o nome Angra, se envolveu em confusões legais, o que resultou num mal-estar geral dentro da banda.

Mesmo assim, em 2006 era lançado Aurora Consurgens. Seu nome e a arte de capa são baseados no manuscrito medieval sobre alquimia de mesmo nome. O disco lidava com distúrbios mentais, e alguns destaques são as músicas 'The Voice Commanding You', sobre deixar a insanidade comandar seus atos, 'Ego Painted Grey', sobre dor, sofrimento, e insônia, e 'Salvation: Suicide'. O álbum é pesado e novamente, puxa muito para o metal progressivo.

Exatemente por ter desviado do direcionamento melódico que o Angra sempre deu aos seus álbuns, Aurora Consurgens não foi bem recebido pelo público e vendeu pouco.

Na iminência de uma nova separação, toda a angústia que pairava sobre a venda resultou em declarações polêmicas de Aquiles Prister, que novamente levaram a banda à mídia pelos motivos errados. Depois de um período muito complicado e sem atividades, os conflitos foram resolvidos com a troca de empresário e com a saída de Aquiles Prister para a volta de Ricardo Confessori.

E, em 2010, com todos os problemas aparentemente resolvidos, o álbum Aqua foi lançado.

Aqua é um álbum (adivinha...) conceitual, e o tema desta vez é a obra 'A Tempestade', de William Shakespeare. O álbum conta a história do mago Próspero e sua filha Miranda, que foram exilados em uma ilha deserta num ato de traição política. O mago usa seus poderes então para causar um naufrágio que levaria á ilha seus principais inimigos e um príncipe que se casaria com sua filha. Essa história é contada a partir da power 'Arising Thunder', e continua com 'Awake from Darkness'.

A emocionante balada sobre o amor 'Lease of Life' dá continuidade ao disco, e é seguida por ' Rage of the Waters'. Outros personagens da história, como o espírito Ariel, que controla os elementos, e o escravo disforme Caliban, tem sua participação em 'Spirit of the Air' e 'A Monster in Her Eyes'. O álbum encerra com 'Weakness of a Man' e a lenta 'Ashes', que conta com vocais femininos de Débora Reis. Aqua marca um novo retorno para a banda, e apesar de uma produção mais fraca em relação aos álbuns anteriores, esse disco cativa e emociona o ouvinte, e só ajuda a reforçar a relevância e a competência do Angra.

O Angra é uma banda que tem a capacidade de se reinventar sempre, e emergir dos mais diversos problemas com a cabeça erguida e um lançamento melhor que o anterior. No que depender da experiência e da qualidade musical dos guitarristas que fundaram a banda e dos outros membros, o Angra é uma banda que ainda vai ter muita história pra contar e um longo caminho de sucesso pela frente.

"We are such stuff as dreams are made on."

Fonte das imagens: www.metal-archives.com